sexta-feira, maio 20, 2005

A Menina Vestida de Azul

(Escrito para a minha filha Marta)

Esta é a história de uma menina vestida de azul que gostava de cavalgar as nuvens. Todos os dias, quando acordava, a menina vestida de azul ia à já janela e olhava o céu. Se não via nenhuma nuvem, triste ficava, mas se algum farrapinho branco por ali andava, vestia-se à pressa e logo saía de casa. Chegada à rua, sentava-se no muro do jardim e, esperava, esperava, até que a nuvem a visse e descesse para a apanhar.
Muito gostava a menina de andar, lá no alto, a brincar. A nuvem corria, corria, saltava, e a menina ria, ria deliciada. Passava assim o dia e a menina até de comer se esquecia. Era uma sensação tão boa aquela. Lá do alto, montada na nuvem, a menina via as casas, os jardins, as pessoas, tão pequeninas que pareciam formigas e gritava e acenava – “Olá, estou aqui em cima, sou a menina vestida de azul, olá, ei… estou aqui, olhem cá para cima!!!”
Claro que a menina vestida de azul só fazia isto nos fins-de-semana e nas férias. No tempo de escola não podia cavalgar as nuvens. Tinha que aprender outras coisas. Bem, que lá em cima também aprendia muito! Por exemplo, o nome das nuvens. Sabias que há nuvens que se chamam cirros? E outras que se chamam cúmulos? E conhecia muitos pássaros que por ela passavam e metiam conversa. Gostava muito, sobretudo, de falar com as andorinhas que lhe contavam muitas coisas dos lugares onde passavam o Inverno… à custa de isto e de outras a menina de azul já conhecia muitas coisas…
Pois é, muito se divertia a menina vestida de azul a cavalgar as nuvens. E quando chegava cá abaixo, contava as suas aventuras aos amigos: “e fiz isto, e fiz aquilo, e voei aqui, e voei ali”, muito tinha ela para contar. Os amigos ouviam, ouviam, mas muitos franziam o nariz, outros coçavam a orelha – é difícil acreditar na menina de azul, mas eu sei que é verdade o que ela diz! O problema é que ninguém a consegue ver, montada numa nuvem! É que ela, como se veste de azul, confunde-se com o céu e não se nota lá em cima!
Olha, se tu quiseres também podes montar uma nuvem e voar. Faz assim, vais para o jardim e sentas-te, numa cadeira, no muro, no chão, onde quiseres. Depois fechas os olhos e pensas com muita força: “Anda nuvem, anda, vem-me buscar, quero voar, quero voar…”. Vais ver, daí a bocadinho já estás lá em cima, a saltar, a voar, basta só imaginar!!!


Amadora, 25 de Julho de 1994