quinta-feira, maio 19, 2005

História da Imagem que quis ser fotografia

Nasceu na cidade das imagens e como qualquer criança gostava de brincar…
Ao peão, ao espeta, ao guelas… à macaca! Como ele gostava de brincar à macaca… bem lhe diziam que era uma brincadeira de meninas, mas ele não se importava! Lançava o tijolo feito malha e era saltar, saltar, ora ao pé coxinho, ora com os dois pés para a frente e como tinha jeito, aquele jeito especial de se dobrar com um pé no ar e apanhar a malha no chão…

Samuel era o nome desta criança imagem, deste menino desenho.

Salta Samuel, salta que és livre de saltar… hei-de um dia saltar contigo, gostava de um dia saltar contigo, de quadrado em quadrado, desenhado a giz no alcatrão, salta que és livre de saltar, não importa que seja uma brincadeira de meninas, não somos todos imagens, não somos todos desenhos, saídos de um ventre prenhe de mulher? E nesta cidade de imagens, nesta cidade do existir rindo, havemos um dia de cantar rimas infantis que subam no ar…

E lá longe, depois da cidade das imagens, o rio, pachorrento, chamava o Samuel…

Samueeeeel…

Samueeeeel…

Era um chamar rouco e doce…

Samueeeeel…
Anda saltar à macaca comigo…

Coisa estranha, um menino imagem, saltar à macaca com um rio…
Mas estamos na cidade das imagens sem peias para a imaginação e o Samuel foi saltar à macaca com o rio. E o rio transformou-se em menino, era outro Samuel (ou era eu?) que saltava à macaca, que soltava gritos de prazer infantil, como só as crianças sabem ter prazer e falar prazer, as crianças e os rios! Sabem, eu acho que os rios falam! Desculpem-me, mas tenho mesmo a certeza que os rios falam e jogam à macaca, como o Samuel! Sobretudo os rios que passam por nós! Pelo menos os rios que são imagens e que ficam por detrás dos ventres grávidos das mulheres! Acho mesmo que são eles que fazem a música que se ouve nas cidades imagens, aquela música linda, casada com o cheiro a maresia…
E se esse rio for o Tejo e a cidade imagem for Lisboa, então tenho a certeza de que tudo o que disse é verdade, mesmo que ninguém acredite em mim! Vá, quem quer vir comigo ao alto de um ventre grávido, ver o Samuel e o rio a saltar à macaca, a cantar e a gritar de prazer? Venham, antes que tudo se transforme, antes que o Samuel cresça e seja sonho, antes que não haja luz do sol, antes que o rio deixe de chamar – Samueeeeel…

Sabem? Um dia o Samuel quis ser fotografia e fotografou Lisboa…
Será um bom final para esta estória?
Deixo isso à vossa imaginação…
Confio na vossa sabedoria…

Entretanto… salta Samuel, salta, grita, sê livre e feliz!

E o ventre grávido pariu! Mais uma criança na cidade, mais um grito de liberdade!