quinta-feira, maio 19, 2005

Lopo do Córreo vinha açodado

Lopo do Córreo vinha açodado. Corria mais do que andava, palmilhando o caminho desde a sua casa em S. Pero de Sarracenos até à cidade de Bragança. Não queria acreditar no que o seu vizinho Gufredo lhe tinha dito. Seria possível o Infante Pedro estar prestes a casar em segredo com a galega Inês de Castro e logo ali, em Bragança, na igreja de S, Vicente?

Mal chegou à cidade dirigiu-se à igreja, mas estas tinha as portas cerradas e ninguém ali estava para lhe minguar as dúvidas.

Correu então à câmara, a antiga cisterna que agora servia para as reuniões do concilium. Entrou por uma das portas abertas na grossa muralha da vila, mas logo percebeu que a Câmara também estava deserta. Em contrapartida, um magote apresentava-se junto à torre de menagem e para lá dirigiu os seus passos. Era curioso, tanta gente e nada se ouvia, o silêncio era insuportável. Pelas costas apercebeu o seu cunhado Bento da Mu. Puxando-o por um braço, perguntou-lhe das novas e as novas foram as que Gufredo lhe tinha dado. Era verdade, o Infante Pedro tinha casado contra a vontade de el-rei Afonso, com Inês de Castro na igreja de S. Vicente. Quem tinha feito o casório tinha sido D. Gil, deão da Sé da Guarda.

Lopo também se quedou mudo… inconscientemente o seu olhar volveu-se para norte, para a Torre da Princesa. Se ele tivesse um outro sentido do amor, se conhecesse as cantigas que os jograis e os fidalgos da corte cantavam, poderia ter pensado – “o que faz o amor”, segundo dizia o povo, naquela torre teria estado encerrada uma moura amada por um cristão…
Ao Marcelo de Moraes