quinta-feira, maio 19, 2005

A Besta

Ao 14º dia, deste mês de Março do ano da graça de 1638, compareceu neste tribunal do santo Ofício, Mariela da Esperança, christã nova, por ter sido acusada pelo seu cunhado, Paio Preto, mestre de marear da barca da torre de San Vicente, de relaçãs pecaminosas com a besta. Pelo sobredito Paio Preto, veio-se a saber que a sobredita Mariela da Esperança lhe pedia com grandes trabalhos, que a levasse à dita torre de San Vicente, nas noutes de lua cheia. Disse o sobredito Paio Preto que não a levando, esta se inteiriçou contra ele, que só com grandes trabalhos conseguiu não levar uns couces no toitiço! Mais disse o sobredito Paio Preto que numa noute de lua cheia, andando ele a preparar a barca para o governador da torre, viu a sua cunhada deitada na praia, grunhindo como quem está gozando em pecado, pelo que logo viu que esta estava se relacionando com a besta! Amerceando-se da pobre, logo ele se deitou em cima da sua sobredita cunhada, para assim a besta não conseguir consumar o acto malino. Disse ainda o sobredito Paio Preto que neste preparo arreparou a sua mulher, Afonsea da Esperança, alma crente e caridosa, que logo o arengou para ir contar tudo ao Santo Ofício! E ele, para salvação da sua alma o fez, pois a bruta besta, que Deus a afaste, só com cheiro a santidade sairia do corpo da sua pobre cunhada. E pela verdade que disse, o jurou sobre os santos evangelhos!