sexta-feira, maio 20, 2005

Carta ao Diogo

Olá Diogo:

Não sei se já me reconheces, provavelmente não.
Sou o teu tio João, o irmão da tua mãe. Pois, essa reconheces tu e bem.
Ainda estivemos juntos há pouco tempo, na casa dos avós, naquela noite em que tu berraste que nem um bezerro desmamado... pronto, está bem, não és nenhum bezerro e ainda não foste desmamado... está bem, não precisas fazer beicinho!
Sim, é isso mesmo, sou aquele maluco que esteve dez minutos a falar contigo e a dizer da da gu gu, ro ro, du, ga gu...
Pois, a figura que nós, os ditos adultos fazemos...
O que é que queres, és o meu único sobrinho, pelo menos do meu lado. Do outro lado tenho seis e um sobrinho-neto. Pois, já estou velho...
Mas, olha, também sou o teu único tio, por isso vais ter que aguentar...

Mas resolvi escrever-te por uma outra razão, provavelmente porque já não tenho capacidade de compreensão para algumas coisas que vão acontecendo neste mundo de adultos:
Sabes o que era uma ordália, claro que não sabes, pergunta estúpida a minha. Ordália era uma forma de administrar a justiça na Idade Média. Deixava-se a Deus a resposta para as dúvidas. Por exemplo, se uma mulher era acusada de adultério, era amarrada a uma cadeira e submergida na água gelada de um rio. Se a mulher sobrevivia, considerava-se que era mentira, se morria é porque era culpada. Mas a forma de ordália mais corrente, era a luta entre duas pessoas. O vencedor tinha a razão...

Tudo isto porque hoje ouvi um senhor ministro deste Portugal, onde nasceste há três meses, dizer uma coisa que tentarei repetir:
- “Portugal apoiou os vencedores, ou seja os que estão dentro da razão”
Assim mesmo!!!
Logo, esta guerra, a tua primeira guerra (salvo seja), foi uma ordália! Os vencedores têm razão!

Não Diogo, já não estamos na Idade Média, mas isso vais tu aprender mais à frente. Sim a História é memória, a memória dos homens. Mas parece que há momentos em que mais vale dizer “da da ru, da da gu, oh bru!!!”

Jinhos do teu tio
João