sábado, dezembro 10, 2005

Doces, tão doces

Doces, eram tão doces os beijos daquele nosso namoro adolescente.
Naqueles fins de tarde de verão, em que sentados na escadaria do velho palacete, eu te contava histórias de filmes de terror que eu tinha visto nos cinemas de Lisboa, para que tu, com medo fingido, ainda te aninhasses mais contra o meu corpo. E eu, abraçava-te ainda com mais força e roubava-te mais um beijo… doce, tão doce.
Sabes, voltei hoje à vila, depois de tantos anos, depois de tantas vidas e quedei-me em frente à escadaria do casarão. Tive medo, tive um pavor enorme que ele já não existisse, que me tremiam as pernas quando desci a rua e entrei no largo. Mas não, ali estava ele, sempre um portento, aquela massa enorme de pedra enegrecida pelos anos. E ali estava a escadaria, aquelas escadas protegidas pela grade de ferros retorcidos. Fui-me sentar no nosso degrau, cúmplice daquele amor de verão, doces recordações de beijos de açúcar e canela. Viajei no tempo, dei-te a mão outra vez, como naquele primeiro dia, o nosso primeiro dia, em que nos encontrámos na fonte e conversámos.
Sabes, a fonte já não existe (eu já não existo), todas as casas têm água corrente, tornou-se inútil e foi destruída. Serão as recordações inúteis? Serei eu uma recordação para ti?
Sabes, vivi, não tenho a certeza se morri, mas já muitas vezes renasci. Como me saberia bem, agora, um daqueles beijos que te furtava, doces, tão doces, como favos de mel. E tu? Existes? Terás por algum momento pensado em nós dois, sentados na escada do casarão velho? Viveste? Terás recordado alguma vez aqueles nossos beijos, quase envergonhados, com sabor a amoras silvestres?
Doces, tão doces eram os nossos beijos…
O casarão, o velho palacete e a sua escada, qual coreto engalanado para uma festa a dois, ainda lá está. Talvez outros ali tenham trocado outros beijos fugidios, mas concerteza, os nossos foram os mais doces…

2 Comments:

Anonymous Anónimo said...

Ainda não conhecia este blog...vim aqui parar por acaso...gostei bastante deste post...fez-me lembrar com muita ternura, nostálgia e um nó na garganta, os meus verões em Gouveia (o meu cantinho lindo na Serra da Estrela...)...é bom recordar!

11:29 da manhã  
Blogger Nastenka said...

Enternecida com as imagens evocadas no texto... fazem parte da estória que trazemos por contar... a memória transporta muita beleza... mas`por vezes também é amarga...
Bonito texto, encantador!

10:59 da tarde  

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